Alma de todo Apostolado: Tibieza - O inimigo do Apóstolo
Ao ver a excelência da vida e o fascínio do apostolado, surgi naturalmente em nós o desejo de nos tornamos apóstolo. Oh santo desejo que nos tornamos trás sentido a vida ilumina a nossa existência e nos renova a ânimo. Mas Dom Chautard nos alerta do risco dos jovens apóstolos : "Um jovem apóstolo sente despertar o desejo de se dedicar às obras, mas carece de experiência. O seu gosto pelo apostolado revela ardor, vivacidade de caráter, amor pela ação, e até luta. É correto, piedoso, mas a sua piedade é sentimental, é uma rotina piedosa. A sua oração, se é que pratica, é um desvaneio, e as suas leituras espirituais, são mera curiosidade, sem influência na sua conduta. Talvez até Satanás, iludindo-o com um senso artístico que ele toma por vida interior, o leve a gostar de leituras que tratem das vias elevadas da união com Deus, e a admirá-las com entusiasmo. Tudo somado, pouca ou nenhuma vida interior, nessa alma que conserva hábitos bons, qualidades naturais e o desejo sincero, mas vago, de permanecer fiel a Deus.
Vai, pois, o nosso apóstolo consagrar-se com zelo a esse ministério tão novo para ele. A breve trecho - precisamente, em virtude das circunstâncias para o fazer fora de si, mil engôdos para a sua curiosidade ingênua, mil ocasiões de quedas, contra as quais, até então, o tinham em parte protegido a atmosfera tranquila da família, do seminário, da comunidade, do noviciado, ou a tutela de um experiente diretor espiritual.
Não só a dissipação crescente ou a curiosidade perigosa, a impaciência ou a susceptibilidade, a vaidade ou o ciúme, a presunção ou o abatimento, a parcialidade ou a difamação, como também a fragilidade do coração a as formas mais ou menos subtis da sensualidade , vão obrigar a um combate ininterrupto essa alma mal preparada para tão contínuos assaltos. Consequentemente, frequentes são as feridas. Pensará acaso em resistir, estando ela tão absorvida em atividades que considera excelentes ? De seu lado, satanás, bem longe de contrariar essa satisfação da vida ativa, excita-a mais possível.
Certo dia, ela entrevê o perigo : o anjo da guarda fala, a consciência interpela-a. É preciso ter mão em si; examinar-se no sossego de um retiro; tomar a resolução enérgica de seguir á risca um regulamento, embora com prejuízo dessas ocupações tão afagadas. Mas já é tarde ! A alma já saboreou o prazer de ver os seus esforços coroados de êxito: amanhã, amanhã, exclama ela! Hoje é impossível; falta-me tempo, porque devo continuar esta série de homilias, escrever este artigo, organizar este sindicato, esta associação de caridade, preparar esta récita, fazer esta viagem ,pôr em dia a minha correspondência, etc... Como a tranquilizam todos estes pretextos! Porque o simples pensamos de encarar a sério a sua consciência já se lhe tornou insuportável. Chega o momento em que satanás pode trabalhar á vontade para acabar de arruinar um coração que se tornou seu cúmplice. O terreno está preparado. A sua vitima apaixonara-se pela ação; pois bem: Satanás instila-lhe febre da ação. A sua vitima não consegue esquecer o tumulto dos negócios, nem suportar o recolhimento; aos quais, habilmente, dá as aparências de zelo pela glória de Deus e pela salvação das almas.
E esses homem, que, ainda há pouco, tinha hábitos virtuosos, deslizará de fraqueza em fraquezas, sem conseguir deter a sua queda. Tendo uma vaga consciência de que nunca,para o turbilhão dos trabalhos, a fim de sufocar os seus remorsos. As faltas vão-se acumulando. O que outrora perturbava a sua consciência reta, agora é apenas, um vão escrúpulo que despreza. Proclama ser homem do seu tempo, que luta com armas iguais ás dos inimigos e defende as virtudes ativas, desprezando o que chama piedade doutras eras. Por outro lado, as sua obras vão de vento em popa;o público aplaude-as. Cada dia vê novos êxitos.
" Deus abençoa nossas obras", exclama essa alma iludia, sobre a qual, amanha talvez, devido suas faltas graves, chorem os anjos do céu.
Como caiu essa alma num estado tão lamentável? Inexperiência, vaidade, imprevidência e relaxamento. Não calculando os seus fracos recursos espirituais, lançando-se á aventura. Esgotadas as provisões da vida espiritual, vê-se na situação do nadador temerário que, já sem forças para lutar contra a corrente, se deixa arrastar para o fundo. Detenhamo-nos um instante, para medir o caminho percorrido e a profundidade do precipício. Procedamos ordenadamente e contemos etapas.
Que quadro espantoso e danoso ! Deus nos livre de que cair em tal cilada. Dom Chautard, como mestre de vida interior, para facilitar nosso entendimento, divide a queda "do jovem apóstolo" em "quatro etapas".
1°etapa: O apóstolo desvia-se da reta intenção de em tudo agradar a Deus e passa a servir a si mesmo. Se envaidece dos dons de Deus, "Fazer o que se Deus me deu o dom da pregação"- diz ele cheio de si. Coloca em primeiro lugar a sua reputação, seu ministério , sua estima do que a salvação do outro. A frase de São Paulo : " Se procurasse agradar os homens, não seria servo de Cristo"( Gl 1,10) , torna-se para ele uma máxima sem sentido.Essa etapa caracteriza-se pela dissipação , o esquecimento da presença de Deus ,o abandono da jaculatórias ( farei um artigo sobre isso ) perda da guarda do coração e relativização da consciência. Nesse período talvez a tibieza já esteja ameaçando a alma.
2°etapa: Dom Chautard nos dá um esboço do homem interior: " O homem sobrenatural é escravo só dever. Por isso , sabe distribuir , ordena mente o tempo e segue um regulamento de vida, fugindo de comodismos e caprichos ( p 57). Nessa etapa, o jovem apóstolo destaca-se pela indisciplina. Esses dias atrás conversava com um irmão de caminhada exatamente sobre isso, a administração do tempo. Dom Chautard retrata a situação que muitos jovens que querem ser santos acabam passam : " Como está habituado a deitar-se tarde, vai abandonando a condição indispensável para permanecer fiel a oração : levantar-se a uma hora certa. Nós jovens vivemos sem freios, sem rédias, e pensamos que " as regras foram feitas para serem quebradas" ai de nós se continuarmos a viver assim. Aqui se faz a direção de alguém experiente para ser nosso diretor espiritual , para tudo contarmos para ele, e obedece-lo como Deus.
Dom Chautard nos propõe fazer uma regra de vida individual para não perdemos nossa vida interior.
3°etapa: A vida litúrgica já é levada como um fardo e não uma fonte de jubilo e consolação. A virtude da religião já está abalada. Pensa o Apostolo que a liturgia nada mais do que" ritualismo exterior". Já não consegue mais saborear o ministério da Eucaristia e do Santo Sacrifício da Missa. O santuário desta alma outrora perfumada pela liturgia, se torna uma praça pública cheia de ruídos e desordens. Deixa a oração sempre para a ultima hora, sendo não pouca vezes, vencida pelo sono.
4°etapa: Aqui, a alma já cai na própria tibieza da vontade. Que estado lastimável ! Os sacramentos já não lhe dizem nada; "a própria Santa Missa, o santo sacrifício do Calvário, é um jardim fechado. A alma já não sente o calor do sangue Divino. As suas consagrações são frias, suas comunhões tíbias, distraídas e superficiais" (pág.58).
Jesus em sua misericórdia, até tenta acordar o apóstolo tíbio : "De vez em quando, o Amigo celeste faz chegar um remorso, uma luz, um apelo. Espera, bate, pede, insistentemente, para entrar: Vem a mim, pobre alma ferida, vem, vem depressa, que Eu te curarei" (pág.59) . Mas a alma, impotente pela força da tibieza (preguiça espiritual), não consegue reagir aos apelos Divino, nem mesmo para a oração.
Uma das caracteristicas marcantes dessa etapa é a falta de mortificação da vista, " que permite que a imaginação se torne desenfreada" (pág59).
Como diz Santa Teresa D'Ávila, "a imaginação é a louca da casa". Na vida espiritual (pelo menos para mim) a coisa mais difícil de controlar é a imaginação enquanto se reza. Muitas vezes, nosso corpo está ali no Sacrário, mas a nossa mente em algo que vimos, em problemas para resolver, etc. Por isso, o apóstolo tíbio se caracteriza por esse problema, pois nele já não existe o espírito de luta.
E uma vez instalada a tibieza e tendo a imaginação descontrolada, a alma que se vê sufocada de todos os lados por tão vários pensamentos, não achando consolação na vida de oração (vida espiritual, vida litúrgica e vida sacramental), busca seu refúgio nas criaturas, e isso é o seu fim: "Que sucederá a esse coração dissipado, que já não dá importância á presença de Deus em si e que se tornou insensível á voz da graça, á poesia sublime dos mistérios, ás belezas severas da liturgia, aos apelos e doçuras do Deus da Eucaristia; numa palavra, às influencias do mundo sobrenatural? Irá parar para analisar com severidade a sua consciência? Não, ele só quer emoções!" (pág 59).
Um bom remédio para sair de vez desse estado lastimável é o pensamento da morte. Tem uma frase de São Maximiliano Kolbe que gosto muito: "Eternidade, eternidade, eternidade ... isso te ensinará a ter juízo".
Muitas pessoas tem medo de pensar na morte. Ontem eu tava querendo ir ao Cemitério rezar pelos mortos e disse isso pra minha mãe. Ela na hora me olhou como se eu fosse louco e me disse: "pra que rezar em um cemitério? Eles não estão lá mesmo" . Aí eu expliquei que também serve para que pensemos na nossa morte, e ela me disse que nem pensa nisso porque tem medo de morrer. Confesso que também tenho medo mas, o pensamento da morte sempre me fez muito bem e me ajudou a criar coragem para arrancar com a graça de Deus, todos os vícios que insistiam em reinar no meu coração. Valerá muito a você, se estiver nessa etapa, a meditação das verdades eternas: se eu morresse hoje, eu iria para o Céu? se a resposta for não; porque não iria? Qual é o pecado, fraqueza, vício ou defeito que me impede de ganhar o Céu?
Assim Deus te ajudará a ganhar virtudes e a sair, de uma vez por todas, desse malefício chamado tibieza.
Deus abençoe a você querido leitor, e que Nossa Senhora te ajude na sua peregrinação até o Céu.
Sagrado Coração de Jesus, tende piedade de nós!
Lucas Eduardo
Comunidade Geração de Maria
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